Somos previsíveis quando afirmamos que agiríamos de certa forma em determinada situação. Isto ocorre porque pensamos que nos conhecemos. Mas, segundo o filme “CRASH – No Limite”, só nos conhecemos diante das circunstâncias. Assisti ao filme numa noite chuvosa, e recomendo-o, de preferência acompanhado de um saquinho de pipoca e brigadeiro. O roteiro foi dirigido por Paul Haggis e estreou no Brasil em 2005. Ele sintetiza situações de vários personagens diferentes da cidade de Los Angeles, que tem suas vidas relacionadas nas próximas 36 horas.
Nota-se que, durante todo o perpassar do filme, o que ocorre é um etnocentrismo exacerbado, presente desde em famílias menos favorecidas economicamente às mais abastadas. Essa forma de ver o mundo, analisando a cultura e os valores dos outros a partir dos seus como centro, termina gerando um aspecto de hierarquia entre os sociedades diferentes.
Dessa visão etnocêntrica, por conseguinte, nasce o preconceito, que encontra surpreendente aceitação social para existir desde os primórdios da história mundial, caracterizado por considerar uma outra cultura, sociedade, cor ou estilo de modo inferior ou menos desenvolvido. Com frutos prevalecentes até hoje, apesar de uma enorme avanço em relação aos conceitos de igualdade, o preconceito ainda é responsável por uma grande quantidade de conflitos. Ao longo do filme, percebe-se, nos diversos cenários, a existência de situações que evidenciam estes conflitos, como o uso da violência policial em um casal afro-americano; o homicídio de um rapaz negro da periferia; a desconfiança sofrida por um indivíduo mexicano especialista em chaves; a revolta de dois jovens negros, que roubam por se sentirem excluídos socialmente. É claramente visível que as relações interperssoais eram realizadas de maneira diferente, dependendo do destinatário a qual se destinava, e não de forma eqüitativa.
Um conceito totalmente contrário ao do etnocentrismo seria o relativismo, que acredita que não existem verdades em sua essência, mas que elas são apenas pontos de vista. Dessa forma, o relativismo não impõe uma visão hierárquica sobre as sociedades diferentes, pelo contrário, ele afirma que a diferença é a maior riqueza entre elas. Esta visão concederia respeito e aceitação às demais culturas e valores, diferentes dos qual o indivíduo estivesse inserido, ao mesmo tempo, que faz nascer outros conflitos, frente à aplicação dos Direitos Humanos.
No entanto, o preconceito, advindo do etnocentrismo, é o valor que permanece no filme, tendo os personagens esquecido de respeitar os valores do outro, deixando à esguelha qualquer relativismo. Sendo assim, o modo como certa cultura age e resolve seus problemas é dado como superior aos outros, conservando um pouco de xenofobia nas suas relações sociais e mantendo abstrato o conceito de igualdade. O Roteiro permite reflexões, deixando dúvidas de você para você mesmo.
Sara Albuquerque.
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