15 discos essenciais para entender o Grunge
Em "Pennyroyal tea", ele canta: "Sit and drink pennyroyal tea/ Distill the life that's inside of me/ I'm anemic royalty". Ao jogar com a sonoridade das palavras – pennyroyal tea é um tipo de chá abortivo, mas também soa como penny royalty, ou "a realeza miserável" –, Cobain expõe com sensibilidade cortante a contradição fundamental da música dos anos 1990, da qual ele foi vilão e mártir.
Em "Very ape", ele avisa, cheio de auto-ironia: "If you ever need anything please don't/ Hesitate to ask someone else first/ I'm too busy acting like I'm not naive" ("Se você um dia precisar de algo/ Não hesite em pedir a outro primeiro/ Estou muito ocupado tentando não parecer ingênuo").
Gravado com perfeição pelo herói underground Steve Albini, "In utero" é o resumo exato de tudo que o grunge significou: peso, lentidão, punk, metal, pop, sarcasmo e um senso de humor inteligente, despretensioso e que vivia em constante flerte com o abismo. Ainda não inventaram termo mais adequado para definir algo assim do que "obra-prima".
Quando o trio assinou com a Geffen Records, já se esperava que eles pagassem o investimento de US$ 65 mil. Mas o que veio em seguida não cabia nem nos sonhos mais febris dos executivos da gravadora. Na esteira do sucesso estrondoso de "Smells Like Teen Spirit", Nevermind vendeu milhões (até hoje, estima-se, foram mais de 26) e desbancou medalhões como Michael Jackson, U2 e Metallica.
Com uma coleção irretocável de hits, "Nevermind" era a síntese do melhor do rock nas duas décadas anteriores: estão ali o punk dos Sex Pistols, o pós-punk do Raincoats e do Killing Joke, o sludge metal do Melvins, o college rock dos Replacements. Por causa deste disco, 1991 ficou conhecido como o ano em que o mundo finalmente se rendeu ao ritmo feio, sujo, niilista e de humor implacável que perambulava os subterrâneos desde o final dos anos 1960.
À vontade sob a batuta do produtor e amigo Conrad Uno, Mark Arm e Steve Turner experimentam com gaita, órgão e violão. Mas o requinte das criações não significa cair no esnobismo ou no vazio experimentalóide: "Let it slide" e "Something so clear" são clássicos dignos da melhor tradição do garage rock do Noroeste dos EUA. Em "Thorn", Steve Turner injeta gasolina em uma base rockabilly enquanto Mark Arm uiva, entre Iggy Pop e Ozzy Osbourne, "I've got a thorn in my side/ About the size of your eye" ("Tem um espinho enfiado no meu corpo/ Do tamanho do seu olho").
O disco segue com o pé no acelerador em "Into the Drink", um dos melhores refrões do Mudhoney e grunge até o fundo do copo. Arm já declarou que para ele a guitarra de Turner é equivalente a um quadro do pintor expressionista Jackson Pollock. Aqui, as cores adicionadas aos contornos obtusos do Mudhoney dão força especial à analogia.
Desde o lançamento do EP "Screaming life" – um dos primeiros discos do catálogo da Sub Pop –, ficou claro que, além das levadas à Led Zeppelin e dos riffs arrastados à Black Sabbath, a banda agregava idéias gestadas no underground norte-americano dos anos 1980. Em "Superunknown", essas influências encontram o ápice criativo de um grupo que minimizou, como poucos conseguiram à época, o desgaste do sucesso comercial.
As afinações peculiares da guitarra de Thayil produzem momentos memoráveis, como o solo da faixa-título e os acordes mortificantes de "The day I tried to live". Chris Cornell alterna a agressividade de costume, em faixas como "Let me drown" e "My wave", com duas baladas surpreendentes, "Fell on black days" e o maior sucesso da banda até hoje, "Black hole sun".
Defensoras do aborto, banidas da coalizão cristã, nenhuma banda feminina apavorou tanto quanto esta, e nenhum disco de garotas punk chegou tão longe quanto este.
Em "Sweet oblivion", segundo disco dos Trees por uma grande gravadora, essas influências aparecem por todo o disco, balanceadas pela voz aveludada e inconfundível de Lanegan. Em "Shadow of the season", "Dollar bill" e na saudosa "Nearly lost you" (incluída na trilha sonora do filme "Singles – vida de solteiro", que retratava a Seattle dos anos 1990), sua voz e suas letras atingem um nível de refinamento que o coloca entre os grandes nomes daquela geração.
Sucessor do também clássico "Houdini", de 93, "Stoner witch" ajudou um número maior de pessoas a entender melhor os motivos por que o Melvins é uma referência tão forte aos grupos do grunge. Estão aqui todos os elementos mais prezados pelos supergrupos da época: guitarras modorrentas, climas febris, baterias tão rudes como complexas, levadas hardcore, humor niilista.
Além disso, os fraseados de guitarra de Buzzo e a métrica absurda da bateria de Dale Crover em faixas tão distintas como "Sweet willy crowbar" e "Goose freight train" borram a fronteira do grunge em direção ao free jazz. Esse lado dos Melvins, que atingiu seu auge em "Stoner witch", é influência direta de uma escola de desajustados que vai de Mike Patton a Mastodon. Bíblia de referência para a memória seqüelada do grunge.
8. Pearl Jam - Ten (Epic, 1992): Ainda que muitos torçam o nariz para os trejeitos hard-rock deste disco – que a banda tentou escamotear a todo custo no decorrer da carreira –, é inegável que "Ten" teve um papel central na explosão não só do grunge mas de todo o chamado rock alternativo.
Fruto da dissolução do Green River – banda seminal de Seattle, mas mal resolvida musicalmente –, o Pearl Jam já nasceu como candidato assumido ao posto de banda grande. Puxado pelo sucesso do grupo na edição do Lollapalooza daquele ano, "Ten" foi reproduzido incessantemente nas rádios college e estourou para as FMs.
Incorporando um groove funkeado – algo entre Red Hot Chili Peppers e Fugazi – a riffs vindos do hard-rock e do heavy metal, a guitarra de Stone Gossard foi o veículo perfeito para a voz potente e grave de Eddie Vedder, que fugia de todos os padrões desse estilo na época.
Retratando de forma incisiva a distopia da Geração X, músicas como "Why go" e a épica "Jeremy" se tornaram hinos instantâneos. Atormentado, paranóico e com um talento único para refrões, Eddie Vedder ocupou nos anos 1990 um posto semelhante ao que havia sido de Pete Townshend nos 1970.
9. Alice in Chains - Jar of Flies (Columbia, 1995): Depois da detonação desenfreada de "Dirt", "Jar of flies" soou como o primeiro passo de sensatez depois da ressaca. Aqui, o guitarrista Jerry Cantrell assume mais intensamente a parte criativa e explora como nunca suas influências de blues e country.
Fruto de um trabalho cuidadoso de arranjos e de uma maturidade lírica única na carreira do AIC, "Jar of flies" é o saudoso sinal de um rumo interessante que a carreira da banda poderia ter tomado, caso não houvesse sido aniquilada pelas drogas.
10. Mudhoney - Superfuzz Bigmuff + Early Singles (Sub Pop, 1990): Para bom entendedor, o título desse disco diz muito. Juntos, os pedais de efeitos Superfuzz e Bigmuff criaram o drive que delimitou a fronteira entre o garage punk do Nordeste americano – símbolo da vizinha Bellingham, lar da Estrus e dos Mono Men – e o grunge de Seattle. Se o grunge existe, disse Mark Arm, ele é um estilo de guitarra. Se levarmos isso como verdade absoluta, este disco é o grunge.
Com esta reedição de 1990, a Sub Pop tentou capitalizar com a atenção que o Mudhoney tinha recém-despertado no mundo. Bruce Pavitt e Jonathan Poneman, donos do selo, aproveitaram o momento e adicionaram às seis faixas do clássico de 1988 os singles do começo da carreira do Mudhoney e dois covers, "Hate the police", do Dicks, e "Halloween", do Sonic Youth.
Assim, pela primeira vez, os fãs puderam finalmente ouvir "Touch me I'm sick", "Sweet young thing (ain't sweet no more)" e "In 'n' out of grace" de uma tacada só. O resto é história.
O tom displicente da coletânea é ideal para que se possam apreciar outros elementos do quebra-cabeça do Nirvana, seja a arte da capa, desenhada por Kurt Cobain, seja o trocadilho do título – que joga com as palavras "incesto", "homicídio/suicídio" e "inseticida".
Sem o peso dos discos oficiais, "Insesticide" mostra um Cobain relaxado, se divertindo com os parceiros de banda e com as palavras, talento ímpar herdado de Frank Black e John Lennon.
Fortemente influenciado pelo proto-punk de bandas como The Sonics, Wrecker! traz uma coleção irretocável e irresistível de hits garage-punk, que rivalizam com os melhores momentos de Mudhoney e Monkeywrench.
Disco essencial em qualquer festa genuinamente roqueira.
14. Soundgarden - Down in the upside (A&M, 1996): Em 1996, o mundo do rock já vivia a decadência do grunge comercial. A morte de Kurt Cobain, dois anos antes, e a ascensão do britpop e da música eletrônica aceleravam o final do prazo de validade dos últimos remanescentes. Em seu último disco, o Soundgarden refinou ainda mais o lado progressivo e psicodélico de "Superunknown" e levou o grunge à inevitável singularidade, ao limite em que ele deixou de ser o que era para se tornar outra coisa.
15. Babes in Toyland - Fontenelle (Reprise, 1992): Aos olhos do mercado, o Babes in Toyland sempre foi "a banda de meninas número dois" do grunge. Por isso, suas músicas elegantes e inteligentes nunca tiveram o impacto que poderiam ter tido. "Fontanelle" é um marco na história do movimento riot-grrrl, por sua crueza, pela ferocidade das letras e pelo auge interpretativo de Kat Bjelland
Walter Jr.
Nos 20 anos do disco "Superfuzz Bigmuff" e da gravadora Sub Pop, o G1 listou os 15 álbuns essenciais para entender o estilo que trouxe ao mundo bandas como Nirvana, Mudhoney e Soundgarden.
Como critério de seleção, foram escolhidas apenas obras lançadas entre 1984 (ano em que as bandas de Seattle começaram a misturar punk com metal, segundo o pesquisador e escritor Michael Azerrad) e 1996 (ano em que o Soundgarden lançou "Down on the upside" e o Screaming Trees lançou "Dust", seus últimos discos de estúdio).
Todos os grupos e discos selecionados já foram classificados como grunge por mais de uma fonte escrita ou apresentam elementos musicais tidos por pesquisadores, jornalistas e nomes essenciais do grunge como pontos comuns aos grupos do gênero: na música, o uso de distorção difusa nas guitarras, alternância entre levadas arrastadas e rápidas, divisão rítmica stop-start (quando a música seca abruptamente, para voltar com força em seguida) e influências de rockabilly, garage rock, punk, pós-punk, metal, hardcore e indie rock; nas letras, ironia, sarcasmo, auto-humor, crítica social, revolta, desespero, sentimento de inferioridade e referências ao uso de drogas.
Para compor a lista a seguir, escolhi as bandas que mais se destacaram pela autencidade do som. Sei que algumas pessoas vão reclamar de existir 3 discos do Nirvana, mas querendo ou não eles foram a grande banda do grunge, não pela mídia e críticos e indústria fonográfica, mas pelo seu som inovador. Vamos a lista:
1. Nirvana - In Utero (Geffen, 1993) : Quando o mundo ainda digeria a explosão de "Nevermind", o Nirvana surpreendeu novamente com um disco mais cru, agressivo e pesado. Ao mesmo tempo, porém, "In utero" trazia um Kurt Cobain introspectivo, com baladas inspiradas no rock'n'roll dos anos 1950 e letras mais incisivas do que nunca.
Em "Pennyroyal tea", ele canta: "Sit and drink pennyroyal tea/ Distill the life that's inside of me/ I'm anemic royalty". Ao jogar com a sonoridade das palavras – pennyroyal tea é um tipo de chá abortivo, mas também soa como penny royalty, ou "a realeza miserável" –, Cobain expõe com sensibilidade cortante a contradição fundamental da música dos anos 1990, da qual ele foi vilão e mártir.
Em "Very ape", ele avisa, cheio de auto-ironia: "If you ever need anything please don't/ Hesitate to ask someone else first/ I'm too busy acting like I'm not naive" ("Se você um dia precisar de algo/ Não hesite em pedir a outro primeiro/ Estou muito ocupado tentando não parecer ingênuo").
Gravado com perfeição pelo herói underground Steve Albini, "In utero" é o resumo exato de tudo que o grunge significou: peso, lentidão, punk, metal, pop, sarcasmo e um senso de humor inteligente, despretensioso e que vivia em constante flerte com o abismo. Ainda não inventaram termo mais adequado para definir algo assim do que "obra-prima".
2. Nirvana - Nervermind (Geffen, 1991) : Em 1991, o Nirvana já tinha deixado de ser uma banda obscura – de uma cidade mais obscura ainda – para ser um nome conhecido no circuito universitário dos EUA. Para o segundo disco, Kurt Cobain queria se distanciar da sujeira lo-fi de "Bleach" e partir para refrões mais melódicos, inspirados em seus heróis R.E.M. e Pixies.
Quando o trio assinou com a Geffen Records, já se esperava que eles pagassem o investimento de US$ 65 mil. Mas o que veio em seguida não cabia nem nos sonhos mais febris dos executivos da gravadora. Na esteira do sucesso estrondoso de "Smells Like Teen Spirit", Nevermind vendeu milhões (até hoje, estima-se, foram mais de 26) e desbancou medalhões como Michael Jackson, U2 e Metallica.
Com uma coleção irretocável de hits, "Nevermind" era a síntese do melhor do rock nas duas décadas anteriores: estão ali o punk dos Sex Pistols, o pós-punk do Raincoats e do Killing Joke, o sludge metal do Melvins, o college rock dos Replacements. Por causa deste disco, 1991 ficou conhecido como o ano em que o mundo finalmente se rendeu ao ritmo feio, sujo, niilista e de humor implacável que perambulava os subterrâneos desde o final dos anos 1960.
3. Mudhoney - Every good boy deserves fudge (Sub Pop, 1991): Se "Superfuzz Bigmuff" é o disco clássico do Mudhoney, "Every good boy..." é onde o quarteto eleva a riqueza de suas referências underground à máxima potência. Aqui, a podreira herdada dos Sonics e Stooges, que delineou o início da carreira do grupo, se encontra com raízes mais profundas, como a surf music e o blues.
À vontade sob a batuta do produtor e amigo Conrad Uno, Mark Arm e Steve Turner experimentam com gaita, órgão e violão. Mas o requinte das criações não significa cair no esnobismo ou no vazio experimentalóide: "Let it slide" e "Something so clear" são clássicos dignos da melhor tradição do garage rock do Noroeste dos EUA. Em "Thorn", Steve Turner injeta gasolina em uma base rockabilly enquanto Mark Arm uiva, entre Iggy Pop e Ozzy Osbourne, "I've got a thorn in my side/ About the size of your eye" ("Tem um espinho enfiado no meu corpo/ Do tamanho do seu olho").
O disco segue com o pé no acelerador em "Into the Drink", um dos melhores refrões do Mudhoney e grunge até o fundo do copo. Arm já declarou que para ele a guitarra de Turner é equivalente a um quadro do pintor expressionista Jackson Pollock. Aqui, as cores adicionadas aos contornos obtusos do Mudhoney dão força especial à analogia.
4. Soundgarden - Superunknow (A&M, 1993): O Soundgarden sempre representou a variável metal na equação do grunge. Mas o background punk dos integrantes da banda – especialmente do guitarrista Kim Thayil – evitou que eles ficassem ao lado de Metallica e Guns N' Roses na história do rock.
Desde o lançamento do EP "Screaming life" – um dos primeiros discos do catálogo da Sub Pop –, ficou claro que, além das levadas à Led Zeppelin e dos riffs arrastados à Black Sabbath, a banda agregava idéias gestadas no underground norte-americano dos anos 1980. Em "Superunknown", essas influências encontram o ápice criativo de um grupo que minimizou, como poucos conseguiram à época, o desgaste do sucesso comercial.
As afinações peculiares da guitarra de Thayil produzem momentos memoráveis, como o solo da faixa-título e os acordes mortificantes de "The day I tried to live". Chris Cornell alterna a agressividade de costume, em faixas como "Let me drown" e "My wave", com duas baladas surpreendentes, "Fell on black days" e o maior sucesso da banda até hoje, "Black hole sun".
5. L7 - Bricks Are Heavy (Slash, 1992): Quando o grunge parecia irremediavelmente dominado por machos atormentados de Seattle, um quarteto de garotas da Califórnia jogou tempero na mistura. Gravado por Butch Vig, mesmo produtor de "Nevermind", "Bricks are heavy" era sujo como um disco grunge tinha que ser, mas trazia ironia, engajamento e diversão em doses inéditas entre as 40 mais tocadas nas rádios de então.
Em "Wargasm", Donita Sparks canta contra a guerra no Iraque (a daquela época) bradando "The Pentagon knows how to turn us on" ("O Pentágono sabe nos deixar com tesão"). "Everglade" é um típico hino riot grrrl com espírito hot-rod e levada grunge. O eterno hit "Pretend we're dead" usa o refrão irresistível para tentar virar o jogo da apatia juvenil dos anos 1990.
Defensoras do aborto, banidas da coalizão cristã, nenhuma banda feminina apavorou tanto quanto esta, e nenhum disco de garotas punk chegou tão longe quanto este.
6. Screaming Trees - Sweet oblivion (Epic, 1992): De todas as bandas do grunge, o Screaming Trees talvez seja a que mais tenha dado continuidade à trilha aberta por bandas como Replacements, Pixies e R.E.M. nos anos 1980. Em adição ao college rock desses nomes, porém, Mark Lanegan e os irmãos Gary Lee e Van Conner incorporaram referências da psicodelia, do folk, do country e do hard rock, criando uma obra tão única quanto subestimada.
Em "Sweet oblivion", segundo disco dos Trees por uma grande gravadora, essas influências aparecem por todo o disco, balanceadas pela voz aveludada e inconfundível de Lanegan. Em "Shadow of the season", "Dollar bill" e na saudosa "Nearly lost you" (incluída na trilha sonora do filme "Singles – vida de solteiro", que retratava a Seattle dos anos 1990), sua voz e suas letras atingem um nível de refinamento que o coloca entre os grandes nomes daquela geração.
7. Melvins - Stoner Wicht (Atlantic, 1994): O fato de um disco como "Stoner witch" ter sido lançado por uma grande gravadora é prova do delírio dos anos grunge e do poder da palavra de Kurt Cobain. Idolatrados pelo líder do Nirvana, King Buzzo e cia. lançaram três primores do horror pela Atlantic, dos quais este é o segundo.
Sucessor do também clássico "Houdini", de 93, "Stoner witch" ajudou um número maior de pessoas a entender melhor os motivos por que o Melvins é uma referência tão forte aos grupos do grunge. Estão aqui todos os elementos mais prezados pelos supergrupos da época: guitarras modorrentas, climas febris, baterias tão rudes como complexas, levadas hardcore, humor niilista.
Além disso, os fraseados de guitarra de Buzzo e a métrica absurda da bateria de Dale Crover em faixas tão distintas como "Sweet willy crowbar" e "Goose freight train" borram a fronteira do grunge em direção ao free jazz. Esse lado dos Melvins, que atingiu seu auge em "Stoner witch", é influência direta de uma escola de desajustados que vai de Mike Patton a Mastodon. Bíblia de referência para a memória seqüelada do grunge.
8. Pearl Jam - Ten (Epic, 1992): Ainda que muitos torçam o nariz para os trejeitos hard-rock deste disco – que a banda tentou escamotear a todo custo no decorrer da carreira –, é inegável que "Ten" teve um papel central na explosão não só do grunge mas de todo o chamado rock alternativo.
Fruto da dissolução do Green River – banda seminal de Seattle, mas mal resolvida musicalmente –, o Pearl Jam já nasceu como candidato assumido ao posto de banda grande. Puxado pelo sucesso do grupo na edição do Lollapalooza daquele ano, "Ten" foi reproduzido incessantemente nas rádios college e estourou para as FMs.
Incorporando um groove funkeado – algo entre Red Hot Chili Peppers e Fugazi – a riffs vindos do hard-rock e do heavy metal, a guitarra de Stone Gossard foi o veículo perfeito para a voz potente e grave de Eddie Vedder, que fugia de todos os padrões desse estilo na época.
Retratando de forma incisiva a distopia da Geração X, músicas como "Why go" e a épica "Jeremy" se tornaram hinos instantâneos. Atormentado, paranóico e com um talento único para refrões, Eddie Vedder ocupou nos anos 1990 um posto semelhante ao que havia sido de Pete Townshend nos 1970.
9. Alice in Chains - Jar of Flies (Columbia, 1995): Depois da detonação desenfreada de "Dirt", "Jar of flies" soou como o primeiro passo de sensatez depois da ressaca. Aqui, o guitarrista Jerry Cantrell assume mais intensamente a parte criativa e explora como nunca suas influências de blues e country.
O resultado são músicas como a excepcional "No excuses", em que as camadas de violão e guitarra dialogam categoricamente com os vocais, trabalhados à perfeição. Em "I stay away", os arranjos de cordas suavizam e amplificam a dramaticidade do vocal de Layne Staley.
Fruto de um trabalho cuidadoso de arranjos e de uma maturidade lírica única na carreira do AIC, "Jar of flies" é o saudoso sinal de um rumo interessante que a carreira da banda poderia ter tomado, caso não houvesse sido aniquilada pelas drogas.
10. Mudhoney - Superfuzz Bigmuff + Early Singles (Sub Pop, 1990): Para bom entendedor, o título desse disco diz muito. Juntos, os pedais de efeitos Superfuzz e Bigmuff criaram o drive que delimitou a fronteira entre o garage punk do Nordeste americano – símbolo da vizinha Bellingham, lar da Estrus e dos Mono Men – e o grunge de Seattle. Se o grunge existe, disse Mark Arm, ele é um estilo de guitarra. Se levarmos isso como verdade absoluta, este disco é o grunge.
Com esta reedição de 1990, a Sub Pop tentou capitalizar com a atenção que o Mudhoney tinha recém-despertado no mundo. Bruce Pavitt e Jonathan Poneman, donos do selo, aproveitaram o momento e adicionaram às seis faixas do clássico de 1988 os singles do começo da carreira do Mudhoney e dois covers, "Hate the police", do Dicks, e "Halloween", do Sonic Youth.
Assim, pela primeira vez, os fãs puderam finalmente ouvir "Touch me I'm sick", "Sweet young thing (ain't sweet no more)" e "In 'n' out of grace" de uma tacada só. O resto é história.
11. Nirvana - Incesticide (Geffen, 1992): Apesar de sofrer com a falta de unidade, esta compilação traz um retrato fundamental do processo de transição da banda barulhenta e indigesta de "Bleach" para a plenitude barulhenta e pop de "Nevermind". Fruto de gravações feitas entre 1988 e 1991, estão aqui desde o cover indie-punk de "Molly's lips", dos Vaselines, a "Aneurysm", épico que antecipa os melhores momentos de "Nevermind" e "In utero".
O tom displicente da coletânea é ideal para que se possam apreciar outros elementos do quebra-cabeça do Nirvana, seja a arte da capa, desenhada por Kurt Cobain, seja o trocadilho do título – que joga com as palavras "incesto", "homicídio/suicídio" e "inseticida".
Sem o peso dos discos oficiais, "Insesticide" mostra um Cobain relaxado, se divertindo com os parceiros de banda e com as palavras, talento ímpar herdado de Frank Black e John Lennon.
12. U-men - Solid Action (Chuck Boy, 2000): Apesar de ter sido lançado em 2000, "Solid action" é um ajuste de contas com raízes muito remotas do grunge. Reunindo músicas compostas entre 1984 e 1989, esta coletânea resgata com precisão a carreira errática de um dos pioneiros do som de Seattle. Junto com Melvins, Soundgarden e Green River, os U-Men foram uma das primeiras bandas da região dignas de atenção externa.
No comando da voz tensa de John Bigley, o grupo excursionou intensamente e abriu as portas da região para seus colegas. As letras e o ethos emanado das músicas de "Solid action" colaboraram profundamente com o senso de humor e a amplitude musical que fizeram de Seattle uma cidade única no mundo do rock. Essencial para qualquer pessoa que queira conhecer o elo perdido entre o grunge do Nirvana e do Babes In Toyland e o pós-punk do Gang Of Four e do Fall.
13. Mono Men - Wrecker! (Estrus, 1992): Vindos da barulhenta Bellingham, vizinha de Seattle no estado de Washington, os Mono Men eram os principais expoentes do selo Estrus, que revelou bandas como Man or Astro-man? e Mummies.
No comando da voz tensa de John Bigley, o grupo excursionou intensamente e abriu as portas da região para seus colegas. As letras e o ethos emanado das músicas de "Solid action" colaboraram profundamente com o senso de humor e a amplitude musical que fizeram de Seattle uma cidade única no mundo do rock. Essencial para qualquer pessoa que queira conhecer o elo perdido entre o grunge do Nirvana e do Babes In Toyland e o pós-punk do Gang Of Four e do Fall.
13. Mono Men - Wrecker! (Estrus, 1992): Vindos da barulhenta Bellingham, vizinha de Seattle no estado de Washington, os Mono Men eram os principais expoentes do selo Estrus, que revelou bandas como Man or Astro-man? e Mummies.
Fortemente influenciado pelo proto-punk de bandas como The Sonics, Wrecker! traz uma coleção irretocável e irresistível de hits garage-punk, que rivalizam com os melhores momentos de Mudhoney e Monkeywrench.
Disco essencial em qualquer festa genuinamente roqueira.
14. Soundgarden - Down in the upside (A&M, 1996): Em 1996, o mundo do rock já vivia a decadência do grunge comercial. A morte de Kurt Cobain, dois anos antes, e a ascensão do britpop e da música eletrônica aceleravam o final do prazo de validade dos últimos remanescentes. Em seu último disco, o Soundgarden refinou ainda mais o lado progressivo e psicodélico de "Superunknown" e levou o grunge à inevitável singularidade, ao limite em que ele deixou de ser o que era para se tornar outra coisa.
nalisadas nos dias de hoje, músicas como a catártica "Pretty noose", "Blow up the outside world" e "Burden in my hand" têm a melancolia de um aceno de adeus, como de alguém que não tem certeza se gostou ou não da viagem, mas que sabe não ter saído dela como entrou. Um adeus digno a uma carreira que se confunde com os próprios anos 90.
Mais do que isso, porém, este disco traz uma riqueza de referências invejavelmente equilibradas, que vão de Melvins à fusão de noise, jazz e punk. Influência direta de bandas como Elastica e Metric.
Walter Jr.
Redator
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