Tradição de mais de 170 anos, a chamada “Festa da Padroeira” é considerada um grande evento religioso, o qual consiste na adoração da Santa Maria Madalena durante nove noites de festa e novenas, além das procissões tradicionais aonde os fieis mostram toda a devoção pela figura religiosa de Maria Madalena carregando o “mastro” de 25 metros de comprimento que é erguido de fronte a igreja matriz de Santa Maria Madalena, também a solenidade da Bandeira e a procissão dos santos, onde as imagens de todos os santos são carregadas pelas ruas da cidade.
Muito bem. A parte religiosa dessa história é aceitável e até indispensável nesta cidade de União dos Palmares, pensar o contrário poderia ser até uma insanidade. Porém, há alguns anos, fui percebendo coisas e tive que refletir e repensar os ideais dessa tradição. Fatos como, por exemplo, “vender” mesas a preço totalmente fora do padrão de vida da maioria da população da cidade simplesmente para “bancar” atrações musicais e notoriedade para patrocinadores e políticos.
Essas mesas se mostram como um divisor. Dividem os “realmente” religiosos e adoradores da Santa daqueles que não podem comprar ou não conseguiram comprar, pois a quantidade, apesar de ser alta é limitada, e tem que ficar do lado de fora da praça, somente observando, se emaranhando num espaço apertado. Podemos ver também da seguinte maneira: a divisão de classes sociais. Os que estão sentados nas mesas são os ricos (ou quase isso), e os que ficam ao redor das mesas, em pé, são os pobres, os menos abastados. Esse tipo coisa incomoda.
Todos os dias, durante o evento na Praça Basiliano Sarmento, algum locutor sobe no palco, clama pela Santa, agradece a políticos, empresários e patrocinadores e faz propaganda de um Bingo destinado a quitação das despesas, juntamente com a venda das já referidas mesas e também das chamadas “quermesses” – que é a venda de doações variadas, potes de plástico, porta retrato etc. - Ah! E o Bingo é vendido também a preços elevados, principalmente no último dia da “festa”, que é onde a cotação sobe, e compre quem puder! Mas se não comprar... Talvez a Santa fique chateada.
Um Bingo valendo prêmios discutíveis. Obviamente que qualquer um necessita de um liquidificador, de um ferro de passar roupas ou de um conjunto de potes de plástico. Mais óbvio ainda é que o dinheiro usado em toda arrecadação dessa “festa” poderia ser totalmente melhor empregado em ações sociais e voluntárias encabeçadas pela própria Igreja e sua bem bolada comissão de festas. Mas... Se existe tal coisa, desconheço e admito sem pestanejar que o erro é meu.
É certo que as pessoas tem a liberdade para se filiarem a qualquer religião, gastar dinheiro com o que bem entenderem e assistir atrações de má qualidade até quando quiserem, mas o que não é certo e aceitável é isso ser feito perante toda uma população há mais de 100 anos e as pessoas responsáveis não darem o mínimo para essa população: respeito. E o pior: a coisa toda partir de uma instituição religiosa. Pois sim. Falta respeito. Quando algo envolve dinheiro a coisa fica preta. Querem só pegá-lo e depois... Bem... Depois é outra história.
Arrecada-se com a venda de centenas de mesas, venda de bebida e comida, aluguel do espaço para o funcionamento do comércio autônomo, com patrocínios e doações, também com o bingo. Bom, e a prestação de contas? Não precisa não, né? O dinheiro fica sob os cuidados cósmicos. Quem compra nem que seja uma simples lata de refrigerante em qualquer lugar da “festa” tem o direito de saber como foi empregado seu dinheiro, se é que há alguma comissão responsável, ela tem o dever de fazer isso, do contrário continuará a falta de respeito.
Claro que há também as despesas, mas isso não justifica a falta de transparência dessa “festa”. A tradição se transformou numa corrida maluca capitalista. Aonde senhores e senhoras da sociedade palmarina brincam de aparecer, com as famílias sendo enganadas em meio a um divertimento banal e de pouca qualidade. Como toda uma população pode aceitar isso? São só sintomas desapercebidos.
Obviamente não se pode defender o fim de algo tão antigo e já estabelecido como é a Festa de Santa Maria Madalena, mas se pode defender a moralização, a realização do respeito, a humanização do que já deveria ser humanizado. É bom ficar atento, pois não faz muito tempo que a religião era usada pura e simplesmente para controlar as pessoas, como se fôssemos um grande rebanho. Não é utopia falar nisso. Ficar atento é mais que importante. Bem, mas se a maioria não vê mal nenhum nesse tipo de coisa... É o ponto final. Entretanto, talvez assim seja por falta de informação e reflexão. Seria a perfeição se os que tem a faca e o queijo na mão tivessem a consciência de sempre melhorar pensando no coletivo, principalmente em se tratando de algo que parte do campo religioso.
A Santa deve estar orgulhosa.
Muito bem. A parte religiosa dessa história é aceitável e até indispensável nesta cidade de União dos Palmares, pensar o contrário poderia ser até uma insanidade. Porém, há alguns anos, fui percebendo coisas e tive que refletir e repensar os ideais dessa tradição. Fatos como, por exemplo, “vender” mesas a preço totalmente fora do padrão de vida da maioria da população da cidade simplesmente para “bancar” atrações musicais e notoriedade para patrocinadores e políticos.
Essas mesas se mostram como um divisor. Dividem os “realmente” religiosos e adoradores da Santa daqueles que não podem comprar ou não conseguiram comprar, pois a quantidade, apesar de ser alta é limitada, e tem que ficar do lado de fora da praça, somente observando, se emaranhando num espaço apertado. Podemos ver também da seguinte maneira: a divisão de classes sociais. Os que estão sentados nas mesas são os ricos (ou quase isso), e os que ficam ao redor das mesas, em pé, são os pobres, os menos abastados. Esse tipo coisa incomoda.
Todos os dias, durante o evento na Praça Basiliano Sarmento, algum locutor sobe no palco, clama pela Santa, agradece a políticos, empresários e patrocinadores e faz propaganda de um Bingo destinado a quitação das despesas, juntamente com a venda das já referidas mesas e também das chamadas “quermesses” – que é a venda de doações variadas, potes de plástico, porta retrato etc. - Ah! E o Bingo é vendido também a preços elevados, principalmente no último dia da “festa”, que é onde a cotação sobe, e compre quem puder! Mas se não comprar... Talvez a Santa fique chateada.
Um Bingo valendo prêmios discutíveis. Obviamente que qualquer um necessita de um liquidificador, de um ferro de passar roupas ou de um conjunto de potes de plástico. Mais óbvio ainda é que o dinheiro usado em toda arrecadação dessa “festa” poderia ser totalmente melhor empregado em ações sociais e voluntárias encabeçadas pela própria Igreja e sua bem bolada comissão de festas. Mas... Se existe tal coisa, desconheço e admito sem pestanejar que o erro é meu.
É certo que as pessoas tem a liberdade para se filiarem a qualquer religião, gastar dinheiro com o que bem entenderem e assistir atrações de má qualidade até quando quiserem, mas o que não é certo e aceitável é isso ser feito perante toda uma população há mais de 100 anos e as pessoas responsáveis não darem o mínimo para essa população: respeito. E o pior: a coisa toda partir de uma instituição religiosa. Pois sim. Falta respeito. Quando algo envolve dinheiro a coisa fica preta. Querem só pegá-lo e depois... Bem... Depois é outra história.
Arrecada-se com a venda de centenas de mesas, venda de bebida e comida, aluguel do espaço para o funcionamento do comércio autônomo, com patrocínios e doações, também com o bingo. Bom, e a prestação de contas? Não precisa não, né? O dinheiro fica sob os cuidados cósmicos. Quem compra nem que seja uma simples lata de refrigerante em qualquer lugar da “festa” tem o direito de saber como foi empregado seu dinheiro, se é que há alguma comissão responsável, ela tem o dever de fazer isso, do contrário continuará a falta de respeito.
Claro que há também as despesas, mas isso não justifica a falta de transparência dessa “festa”. A tradição se transformou numa corrida maluca capitalista. Aonde senhores e senhoras da sociedade palmarina brincam de aparecer, com as famílias sendo enganadas em meio a um divertimento banal e de pouca qualidade. Como toda uma população pode aceitar isso? São só sintomas desapercebidos.
Obviamente não se pode defender o fim de algo tão antigo e já estabelecido como é a Festa de Santa Maria Madalena, mas se pode defender a moralização, a realização do respeito, a humanização do que já deveria ser humanizado. É bom ficar atento, pois não faz muito tempo que a religião era usada pura e simplesmente para controlar as pessoas, como se fôssemos um grande rebanho. Não é utopia falar nisso. Ficar atento é mais que importante. Bem, mas se a maioria não vê mal nenhum nesse tipo de coisa... É o ponto final. Entretanto, talvez assim seja por falta de informação e reflexão. Seria a perfeição se os que tem a faca e o queijo na mão tivessem a consciência de sempre melhorar pensando no coletivo, principalmente em se tratando de algo que parte do campo religioso.
A Santa deve estar orgulhosa.
Wenndell Amaral
Comentários
A elite faz questão se ser e parecer elite.
Humilhar, mesmo sem querer é a regra.
"Não APARENTA ter dinheiro? fora, por favor."
Hipocritas e corruptos, gente medíocre se lambuzando com o pior da cultura, comendo os restos de arte, tomando leves lufadas no ego, provocadas pela falsa sensação de superioridade perante a quem não tem posses...
Isso cria um abismo gigantesco entre abastados e pobres.
E esse abismo gera frustação nos mais pobres por não terem condições... e isso gera uma vontade louca de se ter bens materiais.
Não entendo como a Sociedade Brasileira pode ainda abrir a boca pra reclamar da violência, falta de educação, etc, etc, etc...
Criam os monstros e depois querem negar a autoria.
"Fatos como, por exemplo, “vender” mesas a preço totalmente fora do padrão de vida da maioria da população da cidade simplesmente para “bancar” atrações musicais e notoriedade para patrocinadores e políticos."
Eu também não concordo com o preço das vendagens das mesas. Só posso dizer que, em geral, o dinheiro arrecadado dedica-se, de um lado, ao pagamento das atrações, como vc mesmo colocou, e também reserva-se para outras despesas paroquiais durante o ano. Embora eu não seja, de longe, a pessoa mais indicada para falar disso, pelo meu pouco interesse mesmo no assunto, mesmo assim algumas coisas eu acredito poder comentar.
"Essas mesas se mostram como um divisor. Dividem os “realmente” religiosos e adoradores da Santa daqueles que não podem comprar ou não conseguiram comprar, pois a quantidade, apesar de ser alta é limitada, e tem que ficar do lado de fora da praça, somente observando, se emaranhando num espaço apertado."
Essas mesas dividem? Forçosamente sim, mas acho que parte disto está intrínseco na própria estética do local. hehe... Mesmo que as mesas fossem baratas, iria haver qualquer divisão.. mesmo que fossem gratuitas. E também não tem como serem ilimitadas... Mas compreendo que sua intenção é supor uma divisão de classes, que, por sua vez, é evidenciada pela divisão estética da distribuição das mesas com relação aos que ficam em pé. Outra coisa, quem geralmente se senta não necessariamente são os religiosos. Tem gente que nunca vejo e que aparece por lá. Eu mesmo nunca tive mesa própria nem me interesso por isso... quando apareço(se apareço), ou fico em pé dando passeios, ou em pé parado, ou fico algum tempo na mesa de algum conhecido... Mas não tem nenhuma relação necessária entre devoção e mesa. A relação acontece entre mesa, dinheiro e cronologia, isto é, com quem comprou primeiro. Muita gente "realmente religiosa" nem vai lá... Até porque, os mais conscientes (dexem-me usar este termo), consideram que a única festa real da padroeira acontece na Santa Missa. A de fora, oposta àquela em muitos sentidos, é outra realidade, obsoleta em relação à verdadeira. Realmente é estranho, também (e talvez principalmente) para nós que os festejos exteriores, muitas vezes nada devotos, sejam promovidos pela paróquia. A contradição realmente se faz notar e sentir por quem vai lá, às vezes para dar umas paqueradas e escutar, certas noites, algumas cacofonias.
Ah, e se não comprar o bingo, a santa não fica chateada..kkk.... Talvez até ela agradeça...
Bom Wenndel.. sobre estas atrações da festa, geralmente quem as escolhe é a comissão de festas que, graças a Deus, mudou recentemente, tanto que já se faz notar uma mudança significativa na qualidade das atrações. Ao menos em algumas... afinal, ainda não as vi todas. Mas sou de concordar que as atrações de outros anos eram deprimentes... Este evento, muitas vezes, foi a demonstração explícita de como não deve ser uma festa religiosa. Espero sinceramente que este ano seja, ao menos um pouco, diferente.
Alguns membros da Igreja já chegaram a falar disso. Mas parece que, os que formavam a antiga comissão, tinham uma consciência não tão religiosa, embora alguns até aparentassem... E quando aparece o tal dinheiro, é de se supor que os ânimos afloram.
No entanto, agora cultivamos alguma esperança de melhora... Eu defendo uma mudança radical no tipo de atração da festa. Acho que, embora isto pudesse desagradar a tantos, seria na verdade uma autêntica ação cristã. Porém, muito provavelmente a mudança (ao menos neste aspecto) acontecerá de forma mais gradativa, acredito que por causa de uma certa prudência por parte do pároco.
Com relação à prestação de contas, o Pe. Iran tem feito isto frequentemente ao término das Santas Missas. Acho que mensalmente ele apresentará o saldo recolhido como também o gasto. Creio que depois das festividades não será diferente.
"A tradição se transformou numa corrida maluca capitalista. Aonde senhores e senhoras da sociedade palmarina brincam de aparecer, com as famílias sendo enganadas em meio a um divertimento banal e de pouca qualidade. Como toda uma população pode aceitar isso? São só sintomas desapercebidos."
A tradição se mantém, e tem o seu foco, como eu já expus, na Santa Missa. Esta é a festa, falando estritamente. A conotação secular do termo "festa" leva logo a uma associação com relação às atrações exteriores. Muitos dos antigos que são mais fiéis à tradição original vão para as suas casas depois da SAnta Celebração.
E as "distrações" contra o espírito evangélico que acontecem na praça não são desapercebidos... mas antes, sentidos duramente por quem quer cultive o mínimo de vida espiritual. Antigamente chamávamos esta ocasião de "quebra de espiritualidade" em função do grande apelo sensual que ela concentrava. E a nossa maior vergonha era em pensar que por trás destas profanações havia o nome da Igreja. Não pensem que o descontentamento vem apenas de fora...
Alguns compromissos da Igreja requerem um capital financeiro para dar conta de suas despesas. Isto é verdade. Mas, a partir do momento em que esta preocupação preceder ao cuidado com as almas, não temos nada de evangélico nisto, mas antes, uma imitação barata dos falsos valores mundanos. Infelizmente, Wenndel, em solo católico, ainda há muito isto, mas não podemos generalizar. As despesas da Igreja realmente são muito grandes e, neste sentido, não creio que eu possa esclarecer muita coisa.
"É bom ficar atento, pois não faz muito tempo que a religião era usada pura e simplesmente para controlar as pessoas, como se fôssemos um grande rebanho."
A que tempo você se refere? Idade Média? Não era bem assim... Sobre a visão do povo como um rebanho, isso não é um mal e está dentro da interpretação cristã.
"A Santa deve estar orgulhosa."
Com a festa? Eu acho que não. Aliás, se olhares bem, a sua imagem se recusa em retirar os olhos de Jesus para observar o barulho da praça. Porém com a fé, desde que sincera e legítima, acredito sim que ela abra um sorriso sincero...
Respeitosamente
Fábio Luciano.
rsrsrs...
A elite faz questão se ser e parecer elite.
Humilhar, mesmo sem querer é a regra.
"Não APARENTA ter dinheiro? fora, por favor."
Hipocritas e corruptos, gente medíocre se lambuzando com o pior da cultura, comendo os restos de arte, tomando leves lufadas no ego, provocadas pela falsa sensação de superioridade perante a quem não tem posses...
Isso cria um abismo gigantesco entre abastados e pobres.
E esse abismo gera frustação nos mais pobres por não terem condições... e isso gera uma vontade louca de se ter bens materiais.
Não entendo como a Sociedade Brasileira pode ainda abrir a boca pra reclamar da violência, falta de educação, etc, etc, etc...
Criam os monstros e depois querem negar a autoria.