Irreversível (Irreversible)
França, Drama, 2002
Direção de Gaspar Noé
Por Estêvam dos Anjos - jornalista e autor do blog sobrefilmeselivros.blogspot.com
França, Drama, 2002
Direção de Gaspar Noé
Para aqueles que dizem que a forma de contar uma história não interfere na qualidade do relato – e olhe que são muitos que o dizem – apresento-lhes Irreversível (2003), filme francês dirigido por Gaspar Noé e que é, simplesmente, um relato de um brutal assassinato, por vingança, ocorrido numa boate gay. O enredo é bastante simplório: depois de ver sua namorada espancada violentamente após ser estuprada - uma das cenas que nos vira o estômago-, Marcus (Vincent Cassel) é induzido a se vingar, tendo início uma busca pelo estuprador e sua morte.
A vingança é um dos temas mais recorrentes, principalmente em filmes americanos. Poucas são as obras que lhe dão um tratamento que vão além das cenas de ação, como a trilogia da vingança do sul-coreano Park Chan-Wook (Zona de Risco, Oldboy e Lady Vingança). Irreversível é todo ação, violência e ritmo frenético. Mas o que fez ele se diferenciar dos outros filmes? A sua forma. Narrado totalmente de trás para frente, somos informados da ocorrência de um assassinato e, quadro a quadro, vamos regredindo na história. Não se trata dos convencionais flashbacks narrativos que, geralmente, regridem no tempo e dão sequência em sua linearidade narrativa; mas a passagem do filme se dá totalmente de trás para frente, como se fosse possível modificar os acontecimentos caso voltássemos no tempo.
Irreversível é um daqueles filmes que nos dá a sensação de que só poderia ser contado dessa forma pois, caso, contrário, seria mais um filme de vingança com um visual forte. Visualmente impactante – além da cena de estupro temos, o que para alguns é, a cena mais brutal de assassinato do cinema, o esmagamento de uma cabeça com um extintor de incêndio – a obra dirigida por Noé em muitos momentos é desconfortante, tal o grau de tensão e de violência que as cenas possuem, auxiliado pela câmera levada à mão eu que acompanha a velocidade das ações. Durante quase uma hora de filme o ritmo e a tensão são frenéticos, causando incômodo, algo quase irreversível de se refazer, mesmo com as cenas mais descontraídas e de diálogos que seguem a primeira uma hora.
Mas não é sobre o incômodo que o filme nos causa que se dá a sua possível irreversibilidade. O filme é aberto e fechado com uma frase: “O tempo destrói todas as coisas”. A destruição mencionada refere-se principalmente às vidas das personagens e nossos sentimentos em relação a eles.
Após o brutal assassinato e as várias outras violências que Marcus comete até chegar ao possível estuprador, passamos a sentir repúdio ao personagem que, muitas vezes, age descontroladamente. Mas, quando vamos regredindo nos fatos e vamos conhecendo um pouco o outro lado da história, passamos a ter até certo afeto pelo personagem. Pois a ojeriza é toda dirigida ao estuprador, chegando ao ponto de nos sentirmos bem por tê-lo visto ser morto daquela forma. Eis o grande mérito do filme: mexer com os instintos mais animalescos de quem o assiste, fazendo com que um ato tão cruel de violência seja justificado e, pelo menos no meu caso, aceito. “Vingança é um direito humano”, diz um dos personagens.
Mas outra pergunta deve ser feita: a morte do estuprador mudou a essência do que o ato violento cometido contra a mulher deixaria nas vidas dos personagens? A resposta é não, e apenas no final saberemos o motivo. Dessa forma confirma-se a irreversibilidade que nomeia o filme, e a citação que abre e fecha a obra: “O tempo destrói todas as coisas”. Seja de trás pra frente, ou não.
A vingança é um dos temas mais recorrentes, principalmente em filmes americanos. Poucas são as obras que lhe dão um tratamento que vão além das cenas de ação, como a trilogia da vingança do sul-coreano Park Chan-Wook (Zona de Risco, Oldboy e Lady Vingança). Irreversível é todo ação, violência e ritmo frenético. Mas o que fez ele se diferenciar dos outros filmes? A sua forma. Narrado totalmente de trás para frente, somos informados da ocorrência de um assassinato e, quadro a quadro, vamos regredindo na história. Não se trata dos convencionais flashbacks narrativos que, geralmente, regridem no tempo e dão sequência em sua linearidade narrativa; mas a passagem do filme se dá totalmente de trás para frente, como se fosse possível modificar os acontecimentos caso voltássemos no tempo.
Irreversível é um daqueles filmes que nos dá a sensação de que só poderia ser contado dessa forma pois, caso, contrário, seria mais um filme de vingança com um visual forte. Visualmente impactante – além da cena de estupro temos, o que para alguns é, a cena mais brutal de assassinato do cinema, o esmagamento de uma cabeça com um extintor de incêndio – a obra dirigida por Noé em muitos momentos é desconfortante, tal o grau de tensão e de violência que as cenas possuem, auxiliado pela câmera levada à mão eu que acompanha a velocidade das ações. Durante quase uma hora de filme o ritmo e a tensão são frenéticos, causando incômodo, algo quase irreversível de se refazer, mesmo com as cenas mais descontraídas e de diálogos que seguem a primeira uma hora.
Mas não é sobre o incômodo que o filme nos causa que se dá a sua possível irreversibilidade. O filme é aberto e fechado com uma frase: “O tempo destrói todas as coisas”. A destruição mencionada refere-se principalmente às vidas das personagens e nossos sentimentos em relação a eles.
Após o brutal assassinato e as várias outras violências que Marcus comete até chegar ao possível estuprador, passamos a sentir repúdio ao personagem que, muitas vezes, age descontroladamente. Mas, quando vamos regredindo nos fatos e vamos conhecendo um pouco o outro lado da história, passamos a ter até certo afeto pelo personagem. Pois a ojeriza é toda dirigida ao estuprador, chegando ao ponto de nos sentirmos bem por tê-lo visto ser morto daquela forma. Eis o grande mérito do filme: mexer com os instintos mais animalescos de quem o assiste, fazendo com que um ato tão cruel de violência seja justificado e, pelo menos no meu caso, aceito. “Vingança é um direito humano”, diz um dos personagens.
Mas outra pergunta deve ser feita: a morte do estuprador mudou a essência do que o ato violento cometido contra a mulher deixaria nas vidas dos personagens? A resposta é não, e apenas no final saberemos o motivo. Dessa forma confirma-se a irreversibilidade que nomeia o filme, e a citação que abre e fecha a obra: “O tempo destrói todas as coisas”. Seja de trás pra frente, ou não.
Por Estêvam dos Anjos - jornalista e autor do blog sobrefilmeselivros.blogspot.com
Comentários
Realmente vc captou tudo o que eu senti ao assisti-lo.