EDITORIAL: CÃES DE GUERRA

Quase 10 anos após a invasão do Afeganistão e Iraque assistimos a uma nova intentada bélica dos EUA e países aliados [França, Inglaterra, Itália, etc.] contra um país árabe: Líbia. Desde 2001 os EUA tentam minimizar os efeitos da crise mundial que já se lançava no horizonte naquele ano. Com a ajuda fundamental de seu serviço de inteligência criaram várias guerras que salvaram a economia norte-americana até os dias de hoje. Os States gastaram mais do que arrecadavam nos países invadidos e terminaram por entrar numa espiral de guerras sem fim no final de 2011, dez anos após à tomada de Cabul, capital afegã, tornado-se assim, os “tutores” do ouro negro em grande parte do Oriente Médio, garantindo sua hegemonia através de acordos e contratos comerciais estabelecidos entre as multinacionais do petróleo e países como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes, Turquia, etc.

Com aparato bélico superior e domínio sobre a principal matéria prima que rege o rito capitalista de viver [o petróleo participa na confecção e manufatura de 80% ou mais, dos produtos que consumimos hoje], os países do Ocidente – capitaneados pelos EUA em conjunto com a União Européia – assistiram atônitos suas economias ruírem por culpa do modo de vida exagerado e sem limites de gastos, consumindo tudo que aparecia pela frente; o consumo desenfreado somado à corrupção, esse mal que assola a humanidade desde sempre, fizeram que diminuíssem os investimentos e a conseqüente falência de várias empresas, incluindo alguns poderosos bancos.

Para impulsionar a revitalização das economias ocidentais, o petróleo afegão e iraquiano não bastou. Os mercados não cresceram o esperado e apenas os alguns aumentaram suas riquezas em detrimento do trabalho e vidas perdidas de outros povos. Com culturas diferentes em conflito, chegara um momento que até mesmo os países árabes parceiros acabaram divergindo dos norte-americanos: a guerra ao terrorismo não interessa ao mundo árabe, afinal, a maioria dos árabes apóiam, ao menos ideologicamente, o anti-americanismo; a frágil aliança entre ocidentais e árabes foi alicerçada na volátil contra-partida financeira e uma hora a fonte ia ter de secar, afinal como já diziam os antigos sábios, tudo que sobe desce. Ditadores árabes começaram a cair, uma vez que não cumpriram as promessas regadas de dinheiro de lutarem contra o terrorismo, pelo contrário, ainda o financiavam com próprio dinheiro dos norte-americanos. E os pequenos países árabes com seus pequenos ditadores entraram em convulsão social e o caos instalou-se como se pôde acompanhar nos telejornais e mídia eletrônica até que na semana passada a ONU, oficialmente, através da OTAN, decide invadir a Líbia, o mais importante dos países revoltosos. Itália, França, Inglaterra, Austrália e Canadá deslocam suas Forças Armadas para a Líbia e a guerra dura até hoje e só findará com a saída de Muamar Kadafi do poder ou sua morte.

Então, os EUA tutelarão o petróleo de mais um países árabe pelo uso da força bélica com a ajuda dos países europeus que agem feitos verdadeiros mercenários que espoliam as nações conquistadas, verdadeiros cães de guerras que lutam sem ideologia alguma, apenas em busca de dinheiro... Ah! Perdoem minha falha! Havia esquecido que para quem nasceu durante a era capitalista, dinheiro é sim ideologia...

Agora vem a pergunta que não quer calar: o que eu, um simples mortal errante e sem importância nenhuma para a geopolítica mundial, residente no fim do mundo, tenho haver com a guerra entre Estados que são denominados “potências econômicas”? Nada. Ou tudo. Depende apenas do ponto de vista: se macro ou micro. Na micro-visão da percepção dos fatos, o que acontece fora do âmbito da vida privada, não pode ter influência em nosso cotidiano; já na macro-visão os fatos que acontecem fora da redoma de vidro que a vida privada influencia sim, e de forma bastante concreta o que acontece no nosso dia-a-dia.

Com o recrudescimento das guerras, não existirão apenas vencedores e perdedores nos fronts de batalha. Como os economistas gostam de dizer, a economia está globalizada e todos os países [excetuando-se aqueles que sofrem algum tipo de embargo] sofrem interferências estrangeiras tanto positivas quanto negativas em seus mercados, por isso, o que é a desgraça de alguns, se transforma em dádiva financeira para outros. E isso tem haver com a macro-percepção dos fatos. Raciocinem comigo:

Graças às guerras o Brasil conseguiu crescer muito sendo aporte final de investimentos financeiros dos países que comandam as guerras, conseguiu diminuir a pobreza, aumentar as reservas cambiais, manter o Real forte, manter a inflação dentro do limite aceitável, oferecer crédito para os consumidores finais, etc. Na micro-visão, tanto os partidários de FHC quanto de Lula tentariam puxar a brasa para seus peixes, afirmando piamente que este foi “melhor” que aquele e vice-versa; porém, quando se faz uma observação mais ampla, percebe-se que nossas políticas econômicas atendem em primeiro lugar necessidades de Estados estrangeiros através de diretrizes pré-estabelecidas através dos Tratados firmados pelo Brasil com os diversos países desenvolvidos. Portanto, tomando o Brasil como exemplo, é de interesse dos países desenvolvidos que forjam as guerras terem investimentos aqui; é de interesse deles que os brasileiros consumam os produtos de suas empresas [de armas à cuecas] para assim manter os cofres dos governos estrangeiros sempre no verde.

Por isso, digo que a vidinha mais ou menos que levamos é diretamente influenciada pelos fatos originários a milhares de quilômetros de distâncias daqui: passemos rapidamente a vista pelas prateleiras dos supermercados e veremos produtos com nomes em inglês; o estilo das roupas, calçados, o designe dos carros, a arquitetura, a música, os filmes... Nossa vida se resume a uma réplica xing ling da vida dos norte-americanos e/ou europeu. Até os costumes característicos que cada país conservava a centenas de anos, vão sendo trocados pelos vagos e frios costumes de fora. Nascemos no Brasil, não temos que tentar viver como um californiano, parisiense ou londrino. Porém, acho que isso não é mais possível. A nossa cultura foi estraçalhada, embebida com dólares, euros, vinhos, queijos, wisk e lascívia daqueles que acreditam apenas neles. Mais isso é outra história... Deixa queito.

Nossas fábricas são abastecidas por maquinário de outros países. Os equipamentos do setor de saúde também. Nós vendemos matérias primas como aço e petróleo aos estrangeiros e compramos de volta os produtos finalizados a preço alto, uma vez que não investimos em tecnologia nacional. Todo o know how das empresas vem de fora, assim como as doutrinas de treinamento de funcionários, incluindo de instituições públicas. Eles nos dizem como agir em todos os setores da segurança, até a educação.

O ponto que quero chegar, é que se as guerras continuarem, se os países ricos continuarem corruptos, antiquados, arcaicos objetivando apenas o lucro em detrimento de outros países, a Economia não irá agüentar, empresas irão fechar, fábricas irão falir, o preços começarão a aumentar aqui, o crédito irá ficar cada vez mais difícil, a inflação irá elevar-ser assim como a insatisfação popular. Não estou querendo parecer a mãe Diná, mais esse cenário que descrevi acima já se concretizou num passado nem tão distante assim que a História registrou, porém já rapidamente esquecido. Estou apenas relembrando.

Antes da 1º Guerra Mundial, o cenário global era muito parecido com o atual: potências se juntando e rateando o espólio de países africanos, asiáticos, etc. invadidos, dominados, transformados em meras colônias; uma hora a Economia não agüentou, pois os países beneficiários cresceram tanto sugando tanto que implodiram e vieram as falências, a necessidade de mais guerras, os desentendimentos entre Estados até a explosão total do conflito.

A 2º Guerra Mundial foi praticamente a continuação da antecessora, tendo como pano de fundo a disputa por territórios dominados pelos países vencedores da 1º Guerra; o assassinato de Franscisco Ferdinando o tal rei que marca o início do Segundo Grande Conflito, não passou de mero embuste de marketing político comparado com as “armas de destruição em massa” de Sadam. Toda articulação política que veio a culminar no início do Conflito foi desenhada sobre um cenário de disputa por colônias, pois mesmo derrotada a Alemanha continuava uma potência econômica e tecnológica na vanguarda de ingleses, franceses e norte-americanos.

Hoje novas guerras são iniciadas não por briga por colônias na antiga acepção da palavra, mas sim pela hegemonia financeira baseado nas novas colônias [países dependentes do investimento dos Países Desenvolvidos.] que geram riquezas para o 1º Mundo. São guerras brancas, guerras de preço, lucro, crédito, vendas, vendas e muitas vendas. Os países não dominam mais os outros pela força das armas. As armas são a última opção, direcionadas àqueles mais rebeldes e que tenham algo que valha a pena fazê-lo dominado.

A dominação é feita através do simples papel-moeda impresso por nós mesmo, o dinheiro. O próprio Brasil as vezes ganha o adjetivo de neo-colonialista nos jornais estrangeiros por culpa das empresas nacionais que se instalaram na África, Bolívia, Uruguai, Ámerica Central, etc. Se eles [as Potências] pararem nós pararemos. Quantas guerras terão que ser iniciadas até o momento que o planeta e seus ecossistemas não irão mais suportar tamanhas agressões capitaneadas pelos países capitalistas e seus exércitos de cães movidos a ração de petróleo? A Economia que os países estão atrelados é uma Economia sã e saudável para o planeta? O clima já não é mais o mesmo, as plantações já não dão os mesmos frutos, os rios e mares estão inacreditavelmente poluídos, testes de artefatos bélicos acontecem o tempo todo em meio à natureza, assim como o despejo de milhões de toneladas de lixo, desde hospitalar quanto radioativo, sem falar nos testes de projetos das empresas que demandam uso de animais e seres humanos como cobaias...

É por esses simples motivo que não só eu, mais você também que está lendo tem haver com tudo que acontece na política mundial. E não só nós. Todo mundo. É notório que o Sistema que rege nossas vidas precisa ser desconstruído e remontado com uma alma humana em seu bojo. Precisamos de uma Revolução. Com r maiúsculo, não essas revoluções esporádicas, sazonais, enrustidas de “políticas sociais” nas mãos de partidos políticos degradados pela corrupção generalizada. E uma revolução só pode ser feita quando se sabe exatamente por qual motivo está lutando. Precisamos de uma Revolução se quisermos manter nosso planeta saudável, mais para isso o povo em sua maioria deverá saber o exato motivo pelo o qual está se lutando e não apenas pelo simples Poder.

Lutar deve ser uma atitude nobre que tenha em vista uma ideologia igualmente nobre. O povo um dia entenderá que se ele é mal pago, enfrenta congestionamentos em ônibus lotados e filas intermináveis para pagar ou efetuar uma simples compra, dome mal, come mal, trabalha em excesso, é vítima de assaltos e de violência, é porque ele e muitos outros votaram errado, votaram em representantes políticos que trabalham em prol de empresas estrangeiras ou no mínimo são empresários capitalistas que não enxergam nada alem do tom esverdeado do dinheiro. O mundo capitalista entrará de vez em colapso, e nosso país deveria ser uma das Nações que liderariam um novo modelo de Economia baseada na sustentabilidade e justiça social. Deveríamos ser uma das primeiras nações à proteger nossas fronteiras dos cães de guerras norte-americanos. Deveríamos já possuir uma sólida identidade nacional, com cultura e política própria sem intervenções estrangeiras, defendendo as empresas 100% nacionais, para assim promover uma distribuição de renda justa, ao passo de garantir a máxima eficiência dos serviços essenciais como saúde, educação e segurança aos cidadãos brasileiros.

Porém, infortunadamente, nosso país está longe disso. Nossos governantes, “representantes do povo”, são bastante influenciados pelas empresas e aglomerados econômicos privados. Esses homens poderosos que comandam o mundo literalmente falando estão exagerando em suas guerras, estão passando do limite e a busca incessante pelo poder deixa-os cegos. Não conseguem enxergar que a postura agressiva adotadas por suas Pátrias, apesar de ainda dar lucro, está degradando em demasia o Meio Ambiente, pondo em risco nossa própria existência num futuro a médio-longo prazo.

As guerras levam a tira colo sua filha mais velha: a Corrupção. Por isso os ricos continuam mais ricos e os pobres, mais pobres em relação aos primeiros. Em linguagem simples, é como se vivêssemos em dentro de uma bolha que cresce, cresce, você sabe que uma hora aquilo vai estourar e se pergunta: o que devo eu fazer pra evitar que meu mundo “estoure”? Obviamente que eu não tenho a resposta, a fórmula mágica, ninguém tem...

E assim vamos vivendo, crescendo e morrendo... Presos a uma redoma de vidro que hoje se vê rachada. O ano que vem haverá as Eleições 2012. Manteremos os mesmos lobos em pele de cordeiro na liderança de nossas vidas? É bom prestar atenção nesse detalhe. Já dizia Maquiavel, “Um Povo tem o Governo que lhe é merecido.” Se somos governados por homens insensatos, é porque nossa maioria ainda é insensata. Se somos governados por corruptos gananciosos, é porque nossa maioria ainda é formada por mentes corruptas e gananciosas. Comecemos então a exercitar o dom mais precioso que os deuses nos deram depois da vida: a inteligência, a capacidade de raciocinar e dar valores ao que é bom e ao que é ruim. Comecemos tirando a venda que nos prende ao mundo materialista, facilmente manipulado pelos corrompidos meios de comunicação e suas empresas patrocinadas por governos.

A cobertura exacerbada do casamento do príncipe Willian e a divulgação da suposta morte de Osama Bin Laden não são fatos independentes e desconexos. A invasão da Líbia está sendo mais difícil que a invasão do Iraque, ou seja, muitas vidas inocentes estão sendo perdidas lá. Assim, o jornalismo internacional ameniza o teor das notícias dando cobertura ao casamento mais badalado da década; e mesmo não exibindo a cabeça de Bin Laden aos 4 cantos do mundo, mas afirmando tê-lo assassinado, os EUA passam uma falsa idéia de que a ONU está vencendo a Guerra ao Terror, mesmo sem ninguém ter a certeza sequer se Bin Laden realmente existiu ou era apenas mais um artifício para justificar uma invasão ao Afeganistão...

E enquanto o mundo entra lentamente em colapso social e financeiro, seguimo-nos nossas vidas enganados pelas instituições, trabalhando, estudando e pensando para manter esse mundo de ilusões reais, tangível.

Maio, 2011.

"E essa justiça desafinada, é tão humana, e tão errada... Nós assistimos televisão também. Qual é a diferença?!" Baader Meinhof Blues - Legião Urbana.

Walter A.
wjr_stoner@hotmail.com / @walter_amaral


Comentários

Anônimo disse…
Moço do sorriso bonito, muito bom, embora extenso! Mas vc, continua escrevendo muito bem. ;)