FILME: A QUEDA - AS ÚLTIMAS HORAS DE HITLER

- Der Untergang, 2004 [drama/guerra]
- Dir.: Oliver Hirschbiegel
- Elenco: Bruno Ganz, Alexandra Maria Lara, Corinna Harfouch, Ulrich Matthes
- Dur.: 155min.


Apesar de ultrapassado(!) para alguns, graças em grande parte à enxurrada de filmes hollywoodianos, a Segunda Grande Guerra deixou tamanho legado de inspirações para artistas, estudiosos e etc. tentarem chegar o mais perto possível da verdade daqueles macabros eventos bélicos. A II Grande Guerra foi,tanto para o sociedade ocidental quanto para a oriental, o que um buraco negro é para uma galáxia: uma força desintegradora de tudo daquilo que cair em seus domínios.

Nos últimos anos foram editados alguns livros de onde brotam as teorias de ter Hitler conseguido escapar da Alemanha sitiada pelos comunistas soviéticos com apoio logístico dos serviços de inteligência dos EUA e da Inglaterra, instalando-se na Argentina fascista e vivendo no anonimato, morrendo anos depois. Mesmo com o advento dessas evidências acerca do destino do frio líder nazista, a versão oficial que consta nos livros de História é a de que Adolf Hitler suicidou-se no führerbunker junto com sua mulher Eva Braum em Berlim.

Teorias expostas nos livros acima citados sustentam que quem morreu naquele bunker em 30 de abril de 1945 foi um dos sósias do Führer, milimetricamente treinado para literalmente ser Hitler em suas últimas horas no comando do arruinado III Reich. 

Bruno Ganz interpretando Hitler: enorme semelhança física
São essas últimas horas, na verdade últimos 10 dias oficiais, que o diretor Oliver Hirschbiegel reproduz com maestria em A Queda. Explorando a magistral técnica materializada na pessoa do ator alemão Bruno Ganz na interpretação de Adolf Hitler, o roteiro de Bernd Eichinger revive do modo eloquente aquelas sinistras últimas horas de maneira metódica até, porém esse fato não interfere na captação total da atenção do espectador durante cada minuto de duração, visto que, através das demais interpretações acima da média, principalmente de figuras como Goebbels, Himmler [cujas fisionomias de seus representantes dramáticos, assim como a de Bruno Ganz, são simetricamente parecidas com seus originais] e trupe do alto comando nazista infundem ainda mais valor ao filme.

Mesmo com a guerra como pano de fundo, os combates bélicos são deixados em segundo plano já que tata-se de um filme dramático, onde a enfase é dada ao viés psicológico das principais figuras que controlavam a máquina de guerra alemã, tendo como expoente mor, Hitler. Baseado em depoimentos de quem sobreviveu aos últimos dias, como a secretária pessoal de Hitler à época Traudl Junge, nos livros escritos pelo historiador Joachim Fest e pelo médico-oficial da SS Ernst Günther Schenck, entre outros, é possível aproximar-se minimamente da ideologia genocida sedenta de poder que guiava os representantes do povo alemão.

É possível acompanhar a contraposição de sentimentos nos últimos momentos da II Guerra: em determinada tomada, fica evidente o descontrole psicológico no momento em que Hitler, ao ser informado que a artilharia do exército russo já controlava boa parte de Berlim, bradava a todos pulmões que brevemente chegariam reforços que acabariam com a artilharia do Exercito Vermelho; em outro momento de demonstração onírica dos pensamentos de Hitler, o sanguinário ditador afirma categoricamente [mesmo já informado da destruição completa de sua Força Aérea]  que "logo chegarão milhares de caças para aparelhar nossa Luftwaffe e em seguida atacaremos Londres e derrotaremos os russos",  demonstrando claramente que um tipo de megalomania psicótica havia a muito dominado-o. Em contraposição, nenhum de seus asseclas, mesmo os ocupantes de altos cargos no governo Nazi, não tinham em si um mínimo de coragem para brecar os delírios de um homem egocêntrico em franca derrocada, entregando à própria sorte a população alemã já praticamente derrotada e sub-julgada pelos russos. 

Alicerçado em fragmentos documentais em torno da figura histórico-oficial de Hilter, é exposto o evidente ódio que o führer nutria não só aos judeus, gays, negros e etc. nos momentos finais da guerra, o próprio povo alemão transformou-se em malquisto, muitos inocentes julgados e condenados por Hitler como verdadeiros culpados na derrota. Em determinada passagem, é destaque a veemência com que o ditador nazi-socialista [sim, ao contrário do que dizem a maioria dos livros, a Alemanha nazista foi um estado fascista de esquerda e não de extrema direita como tentam inculcar nos incautos] nega a rendição, que caso estivesse vindo evitaria o funesto fim melancólico de guerra, onde os principal vilipendiado foi o povo alemão, com destaque para as mulheres, crianças e idosos, que o elegera como um salvador e acabaram sendo guiados para a ruína: "nada devo ao povo", chega a dizer Hitler em certa hora.

As declarações anti-semitas tornam-se diminutas comparadas com as teorias de superioridade dentro de sua própria raça ariana vindos à tona no momento que Hitler é questionado sobre os civis inocentes perecendo nas últimas combalidas linhas de combate: "(...) deixem que morram! Afinal, os melhores de nossa espécie morreram em batalha. O que temos agora são apenas os fracos, o resto da espécie!" Hitler foi figura paradoxa [detentora de graves patologias mentais, em minha insignificante opinião]. Suas ideias destrutivas que demandavam atos cruéis, se defrontam com atitudes amáveis com as pessoas mais próximas: sua esposa, sua secretária, seus cachorros pastores-alemães. "Para o mundo, todo o ódio. Para os meus, todo o amor...". Talvez essa dicotomia tão bem delimitada seja o motivo de tanta idolatria à sua volta. 

A película consegue mostrar que até aqueles homens de gelo de coração negro, sentiam medo, esse sentimento que eles sabiam infligir tão bem em seus próprios compatriotas e demais nações dominadas. E como todo animal acuado e atemorizado, cometeu atos em defesa da própria espécie: Hitler preferiu usar o suicídio como porta de entrada na História, perpetuando assim sua ideologia [de fato a esquerda só cresceu depois da II Guerra]. Ao contrário, o escárnio posterior à derrota, caso o Alto Comando Alemão fosse capturado vivo, seria uma afronta à sagrada lealdade nazi-socialista, servindo eles mesmo de exemplo negativo de suas ideologias, caindo facilmente no limbo de esquecimento. Destaque para alguns oficiais dissidentes da SS que, não tendo a coragem covarde de tirar a própria vida, caíram na esbórnia enquanto Berlim caia em pedaços.

Dos civis lotados naquele bunker que nada tinham a ver com aquele banho de sangue e que tão bem representavam o restante da população alemã que encontrava-se refém desses lunáticos assassinos, temos como exemplos de funestos destinos os filhos - crianças entre 5 e 13 anos - de Joseph Goebbels [Ministro da Propaganda nazi-socialista que assumiu o cargo de chanceler após o suicídio de Hitler] terrivelmente envenenados com cápsulas de cianureto enquanto dormiam pela própria mãe, Magda. É um filme forte no sentido do choque com aquela amedrontadora realidade daqueles anos tenebrosos. Ao mesmo tempo que a película, como já disseram alguns críticos, humaniza Adolf Hitler, cumpre magistralmente seu papel de reproduzir o regime de destruição e morte que foi o Nazismo [regime de cunho esquerdista, que fique bem claro, tão voraz por poder quanto seus irmãos ideológicos Mao Tse Tung, Polt Pot, Stalin...]. Destruição e morte que de tão diabólicas, não polparam nem seus criadores.

Walter A.
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