- Manifesto Do Nada Na Terra Do Nunca, 2013.
- Lobão.
- Ed.: Nova Fronteira
É inegável que o cantor Lobão tem um grande exército de detratores que, com ou sem razão, o persegue e quase sempre conseguem efetivar o efeito contrário: em vez de espantar, fazem o cantor angariar mais fiéis dispostos a consumir suas idéias de vanguarda. Nesse sentido, antes de continuar a crítica do livro, posso contar minha empírica experiência. De tanto ler e ver o Lobão sendo escorraçado da "grande" mídia e por fim presenciar um show que acabou antes de começar no Festival do Inverno de Garanhuns, eu era um de seus detratores mais, digamos, incisivos. Sem raciocinar ou raciocinando tortamente, esses fiéis detratores (eu), fazem uma propaganda negativa pesada do cantor, tolhendo a ascensão merecida do mesmo no cancioneiro brasileiro. Depois que vi Lobão abandonar o palco pernambucano fui atras de informação do cantor e fiquei bestificado com o álbum lançado à época em bancas de jornais A Vida É Doce. Depois de ouvir 500 vezes o disco, deixei de ser um detrator do cantor. Durante as eleições de 2014 pude me aprofundar em suas idéias e acabei por me deparar com esse livro que me fez ter Lobão como uma referência artística no Brasil. Nem tanto pela sua música, mais sim por todo o conjunto de sua obra: livros, discos e uma postura firme perante o mainstream vampírico e de opiniões embasadas acerca de deprimente política nacional.
Em seu primeiro livro autobiográfico 50 Anos a Mil, Lobão expõe sua vida e consequentemente, seus erros. E, caso sejamos hipoteticamente cristãos, que autoridade temos para julgá-lo? Não só ele, mas qualquer pessoa. Não possuímos essa autoridade mesmo se formos, hipoteticamente, ateus convictos. Afinal, hipoteticamente, mesmo não crendo em nada, ainda assim existe a Ética e a Moral, você e eu querendo ou não. Essas duas ciências servem justamente para sermos justos um com os outros e não é julgando sem conhecimento de causa que atingiremos esse nobre objetivo. Dito isto, deveria ser dispensado lembrar, mas não existe muita lógica em ligar a música de um artista com sua vida privada ou sua posição política.
- Lobão.
- Ed.: Nova Fronteira
É inegável que o cantor Lobão tem um grande exército de detratores que, com ou sem razão, o persegue e quase sempre conseguem efetivar o efeito contrário: em vez de espantar, fazem o cantor angariar mais fiéis dispostos a consumir suas idéias de vanguarda. Nesse sentido, antes de continuar a crítica do livro, posso contar minha empírica experiência. De tanto ler e ver o Lobão sendo escorraçado da "grande" mídia e por fim presenciar um show que acabou antes de começar no Festival do Inverno de Garanhuns, eu era um de seus detratores mais, digamos, incisivos. Sem raciocinar ou raciocinando tortamente, esses fiéis detratores (eu), fazem uma propaganda negativa pesada do cantor, tolhendo a ascensão merecida do mesmo no cancioneiro brasileiro. Depois que vi Lobão abandonar o palco pernambucano fui atras de informação do cantor e fiquei bestificado com o álbum lançado à época em bancas de jornais A Vida É Doce. Depois de ouvir 500 vezes o disco, deixei de ser um detrator do cantor. Durante as eleições de 2014 pude me aprofundar em suas idéias e acabei por me deparar com esse livro que me fez ter Lobão como uma referência artística no Brasil. Nem tanto pela sua música, mais sim por todo o conjunto de sua obra: livros, discos e uma postura firme perante o mainstream vampírico e de opiniões embasadas acerca de deprimente política nacional.
Em seu primeiro livro autobiográfico 50 Anos a Mil, Lobão expõe sua vida e consequentemente, seus erros. E, caso sejamos hipoteticamente cristãos, que autoridade temos para julgá-lo? Não só ele, mas qualquer pessoa. Não possuímos essa autoridade mesmo se formos, hipoteticamente, ateus convictos. Afinal, hipoteticamente, mesmo não crendo em nada, ainda assim existe a Ética e a Moral, você e eu querendo ou não. Essas duas ciências servem justamente para sermos justos um com os outros e não é julgando sem conhecimento de causa que atingiremos esse nobre objetivo. Dito isto, deveria ser dispensado lembrar, mas não existe muita lógica em ligar a música de um artista com sua vida privada ou sua posição política.
Por essas bandas é normal afirmar que não se gosta de um artista porque simplesmente “não se gosta". O artista deve ser apreciado e analisado com base em seus méritos intelectuais/artísticos
e só. Suas crenças, possíveis ideologias, superstições e opiniões pessoais
devem ser sempre separadas de sua arte ao menos que sua arte seja baseada
nesses temas. Aí já outra discussão. Em fim, se você tem preconceito com o Lobão
já deve ter parado de ler essa matéria a muito tempo se é que a abriu para ler.
Mas se você já tem consciência de seu pequeno lugar no mundo assim como ele e
eu temos, pensa humanamente sem pré-julgamentos superficiais, ou pelo menos tenta e tem interesse na nossa cultura e política, deve ler como forma de registro de um
momento histórico importante: o delírio coletivo por qual sucumbiu o Brasil, um
país que já foi a quinta maior economia do mundo, pariu escritores, políticos,
juristas e artistas de relevância mundial e agora se contenta em ser o último
país em desenvolvimento da América do Sul.
Manifesto do Nada... cai como uma luva nesses momentos de agonia por qual passa
o país. Suas ideias veem no momento oportuno, no momento que cai a máscara da
presidente fantoche Dilma Roussef e de seu mentor Lula. O livro abre com um
prólogo em forma de poesia com um pé no rap e outro no cordel que as vezes soa
exagerada, maximizada, carregada verborreicamente, porém com impacto suficiente para que o leitor queira
saber o que vem depois. O primeiro capítulo aborda nossa pobreza. Seja ela
material ou intelectual. E como a pobreza fincou relação de simbiose com o
brasileiro mediano ao ponto de não se distinguirem-se mais um do outro. A
pobreza de espírito do brasileiro de hoje vem sendo formada a muito tempo. O
escritor levanta o tema de sempre comemorarmos aquilo que não é pra ser
comemorado. Valoramos em excesso coisas banais como por exemplo o futebol ou a
televisão com suas novelas e jornais tendenciosos. Lobão exibe como nossa
cultura foi moldada pela revolução cultural esquerdista apregoada por Antonio
Gramsci. Um mundo que esconde uma época onde os artistas que eram oposição a revolução comunista, sempre foram relegados a traidores da cultura,
dedo-duros, etc. que o diga Wilson Simonal e tantos outros citados no livro.
O cantor exibi lastro bibliográfico. As obras citadas como referência deixam
qualquer pseudo-doutor de esquerda no chinelo. Ainda mais quando a
média de leitura do brasileiro universitário é de um livro por ano. O capítulo
inicial traz um pouco de luz sobre a pobreza de nossa cultura e da mania do
brasileiro renegar o que é bom, bonito, belo e a idolatrar aquilo que é feio,
ruim, pré-fabricado. Na maioria das vezes, só por birra, por pura irracionalidade ou preguiça de
pensar. O cúmulo dessa alienação para o autor são os Racionais MCs, grupo que
Lobão considera o braço armado do PT na música. Não é pra menos pois o que o
grupo faz é apenas exalar letras de apologia ao crime e de exaltação do
lumpemproletariado (bandidos, ladrões, estupradores, traficantes, etc.)
reforçando o sentimento de racha entre ricos pobres tão repetido pela esquerda enquanto seus líderes se tornam parte daquilo que eles renegam. O próprio Lobão pode ser tomado como exemplo: mesmo já tendo composto uma
enxurrada de hits, o cantor sofre de "bullyng cultural" por pessoas altamente
despreparadas para opinar sobre o que quer que seja. A maioria dos jornalistas que o criticam não
possuem o mínimo de conhecimento sobre a música, muito menos sobre a verdadeira
cultura nacional.
Sujeito culto de ascendência europeia, estudante de violão clássico, é
indiscutível que o cantor vive uma realidade um tanto quanto diferente da
maioria de nós. Se destacava por ser crítico, observado e consequentemente
questionador. E num país como o nosso, que exalta o embuste, a mentira, o
faz-de-conta, quem exerce seu direito de expressão acaba ferindo egos
poderosos. Lobão conta por alto que quando foi preso após muita perseguição,
não teve nenhuma vontade de fazer parte dos presos políticos da época mesmo com
todos os “pressupostos” preenchidos. Deixou o rótulo com essas pessoas que hoje
governam muito mal o país. Durante o fim dos anos 80 e começo dos 90, músicos
excepcionais de reconhecimento estrangeiro como Tom Zé, Hermeto Pascoal, João
Donato, etc. foram deixados de lado para que artistas alinhados politicamente
com a esquerda pudessem se firmar como parâmetros musicais.
O cantor aproveita boa parte do livro para esclarecer sua saída do programa
jornalístico A Liga exibido no canal Band. Lobão se diz uma pessoa de boas
intenções, e levando em conta seus depoimentos com sua condição financeira
privilegiada, chega-se a conclusão que ele realmente não precisava fazer parte daquele programa, mas fez questão de fazer parte como “crescimento pessoal”. E só tomou
na cara. Mesmo programas na linha dos documentários, tentam exibir um mínimo de
polêmica. E nada mais polêmico do que um roqueiro das antigas como Lobão num
mega show do famigerado "sertanejo universitário". Ele vai e o final
da reportagem pede demissão. Sua narrativa da tentativa dos produtores de venderem
uma imagem de reality show com Lobão
travestindo-se de garimpeiro, com direito a uma viagem de dias de barco e
estrada de terra pelo Amazonas exemplifica como a produção do referido programa era neófita para dizer o mínimo.
Confesso que assim como a maioria, fui voz ativa no boicote contra o Lobão.
Assim como também já fui simpatizante do PT, militante da esquerda lato sensu, seduzido pelos gritos de
ordem das patricinhas uniformizadas com camisetas do PSTU ou PC do B que
dominavam os diretórios acadêmicos da faculdade que cursava. Fui um idiota
útil. Pior que isso, só não assumindo o erro. Agora tento reparar esse erro. No Brasil, os
formadores de opinião insistem em mostrar aquilo que não são: donos da verdade.
Uma verdade capenga, sem base teórica muito menos científica, baseada apenas em
achismos objetivando manipular as massas para que se sintam sempre num estado
de normalidade rotineira. É essa massa de (des)informadores de opinião que Lobão
critica em seus textos. O cantor é suficientemente humilde para assumir que
também já foi PTista, inclusive fazendo comícios gratuitos para o partido
vermelho e aproveita o ensejo para esclarecer seu ponto de vista sobre sua militância durante a campanha presidencial de 1989. Lobão é humilde o bastante para assumir que era um ignorante que pouco ou
nada conhecia sobre a esquerda. Como exemplo de minha ignorância, durante minha adolescência seria eu um grande fã do Lobão sem mesmo nem ouvir suas
musicas só porque o mesmo se dizia de esquerda, revolucionário. Era um "fã" de suas posições políticas não de sua arte. Ridículo.
O autor/cantor se propõe e consegue expor as mazelas culturais de nossa
realidade rotineira através de fatos onde ele era o protagonista. O livro soa
em alguns momentos como um exorcismo de um demônio arrependido de entrar num
corpo que logicamente não era dele. Longe de isso ser demérito, esses pequenos
fatos da realidade de um artista que pensa diferente da maioria dos outros
artistas tidos como “populares”, servem para termos uma noção de como a cultura
nacional está deteriorada ao ponto desse mesmo artista demorar a enxergar as
adversidades culturais que era convidado a participar. Através de causos
verídicos de suas aventuras como músico e repórter (no programa A Liga da Band) Lobão constrói uma linha de raciocínio sobre nós brasileiros de muita
inteligência e principalmente autocrítica, ingrediente que falta na comida da
maioria dos nossos "intelectuais", jornalistas, críticos e, claro de nosso povo.
Encerrando o livro o cantor/escritor provoca em carta aberta
o nosso patrono cultural, o pai de nossa “arte moderna” (seja lá o que isso
quer dizer) ou melhor, pai de nossa mazela cognitiva: Oswald de Andrade. Lobão
desconstrói as principais ideias do Manifesto Antropófago: a esquerda
exalta aquela escrita tosquiada, quebrada, sem aprofundamento teórico ou estudo
prévio sério, expoente da contracultura e no mais, contraditória ao resumir
suas ideias de brasileiro autêntico como sendo um semibárbaro, habitante de uma
realidade paralela, sem grandes capacidades cognitivas vivendo num habitat
propício apenas para o fornecimento de matéria prima. Na tosca visão "oswaldiana", se o brasileiro
autêntico se aparentasse, em qualquer que fosse o aspecto principalmente cultural, com um homem
racional, meticuloso, que amasse o conhecimento e vivesse em consonância com
este, seria tido como uma imitação do europeu. Um mero papagaio. Burro ou maldoso? Ambos?
Pinçando trechos de alguns iluministas, Darwin e teóricos comunistas, Lobão
expõe o monstro criado por Andrade: uma
grande panaceia ideológica visando legitimar intelectualmente a anarquia
teórica nas artes brasileiras. Aquilo que fosse baseado em artistas técnicos,
estudiosos, perfeccionistas, clássicos, era tachado de antiquado, “imitação” de
europeu; enquanto que manifestações com foco na falta de técnica, no vazio de
essência e significado ou simplesmente propaganda ideológica de esquerda
transfiguradas em “arte popular” foi tido como o modernismo e pós-modernismo
brasileiro. Se nossas artes andam em franca decadência e os cursos superiores
de Artes nada fazem param modificar esse cenário é porque a maioria tem Oswald
de Andrade e sua Semana de Arte Moderna como o marco da cultura nacional. E
essa cultura alardeada por tão poucos, porém em posições de comando, não existe.
Simplesmente não existe. O que leva a esquerda a idolatrar a Semana e
institui-la como marco cultural nacional é o descaso inerente do brasileiro que
lê em média um livro por ano isso quando na faculdade. Se hoje temos o "lepo-lepo", a "sofrência" e a "muriçoca-soca" em nossas vidas, é porque esse único livro que o universitário lê, tem grandes chances de ser 50 Tons de Cinza...
Se procuras uma leitura de bom conteúdo porém leve que, ao final modifique
positivamente seu modo de encarar a cultura brasileira, que leve você leitor a
ser uma pessoa mais crítica em relação a si e ao mundo que nos rodeia, leia esse Manifesto do Nada na Terra do Nunca. Só conseguiremos ser verdadeiramente críticos lendo autores
que sejam imparcialmente críticos e lógicos distantes das nocivas ideologias esquerdistas. Numa falsa democracia que sustenta uma
cleptocracia através da subversão da cultura como a nossa, encontrar autores
nacionais atuais que abordem o cerne da questão como Lobão o fez de maneira
autobiográfica, expondo suas próprias experiências com o mínimo de
imparcialidade aparente, é raridade. Porquanto, aproveitemos a leitura e
fiquemos inteirados de como nossa cultura que deveria libertar e informar a
massa, é apenas um mero apêndice do governo através de incentivos e patrocínios
a “projetos” culturais. Lobão serve como prova daquele ditado popular nacional:
a unanimidade é burra. A maioria o odeia... Então tire sua própria conclusão.
Walter A.
wjr_stoner@hotmail.com / facebook.com/Walter_blogTM
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