FILME: Precisamos Falar Sobre o Kevin



Precisamos Falar Sobre O Kevin, 2011.
Dir.: Lynne Ramsey
Drama
Dur.:112min.


Quanto pesa a parcela de culpa dos pais num massacre cometido por seu filho adolescente que depois se suicida? O lugar comum após tragedias cada vez mais comuns - a poucos dias um homem matou 7 pessoas num bordel no Estado de São Paulo e não faz muito tempo que outro assassino matou várias pessoas num cinema também em SP - é levantar a vida dos criminosos: era violento? Sofre de doenças mentais? Algum fanático? Satanista? Psicopata? Sociopata? Os jornais cada vez mais rasos, vão na contramão da realidade, não têm se aprofundado no principal problema para que chacinas não voltem a ocorrer: a criação [ou a falta dela] dos perpetradores.



O ótimo filme da escocesa Lynne Ramsey é uma adaptação do livro homônimo da escritora Lionel Shriver de 2007 que tem como razão de existência as inomináveis chacinas ocorridas em território norte-americano com destaque para o assassinato de 13 pessoas numa escola na cidade de Columbine, Estado do Colorado em 1999 por 2 adolescentes que se suicidaram após o crime. Segundo a autora, o jeito de vestir, as músicas e sites mais acessados dos assassinos foram perguntas frequentemente respondidas pela imprensa, mas só conhecer o meio cultural basta para abrir uma pequena fresta na calcificada mente de um assassino em série? Diante da ignorância disseminada por pseudo-intelectuais, é natural que a mídia busque o mais fácil, de venda mais rápida e entre a verdade e a polêmica, óbvio que a segunda opção é mais lucrativa. Já para o público em geral pouco importa se a reportagem trouxe elementos verídicos ou fantasiosos; a atenção logo será tomada por outra notícia trágica, assim se sucedendo dias após dias num ciclo de morte e desinformação bastante rentável.



Mostrando aguçada sensibilidade para "cortar na própria carne" [num mundo rodeado por um falso feminismo] para usar um termo muito usado pela imprensa inócua, a diretora dá forma e acrescenta conteúdo através de boas técnicas de filmagem e estética marcante: cores fortes, diálogos curtos e precisos, intervenções poéticas [como a cena inicial onde Tilda Swinton  resolve deixar a vida hedonista e ter um relacionamento "sério" sem imaginar sua principal e mais corriqueira consequência: um filho]. Nesse mundo atual onde o "politicamente correto" reina em detrimento inclusive da Arte, encontrar uma mulher que resolva expor a culpa exatamente de uma mulher "moderna e independente" infantil em renegar a vinda de um filho que derroca em uma série de mortes, é admirável e merecedora de méritos. Em tempos de feminazis, auto análise é recomendado apenas para as fortes. E o papel do pai? O pai do Kevin é presente fisicamente mas completamente ausente de alma...Contudo,  o que fica claro é que a falta de amor materno somada a permissividade paterna [provavelmente para compensar o desprezo materno] faz gerar o ambiente perfeito para o desenvolvimento do sociopata que acaba por ceifar vidas de inocentes covardemente.
                               

Não foi a toa que filme foi premiado. Sua essência é chocante por traduzir na tela a realidade. A personalidade de Kevin adolescente [vivido por Ezra Muller] é terrificante. Porém, mais terrível ainda são as atitudes exaladas naturalmente pela mãe que, por mais que tente esconder, não consegue frear sua ojeriza pelo menino. Por mais que os recentes estudos indiquem uma crescente influencia do meio sobre o individuo, os casos estudados no livro e competentemente resumidos nesse filme, mostram que a vida familiar prazerosa e o amor incondicional são os fatores preponderantes para criar filhos de mentes saudáveis, sem ódio no coração e, principalmente com consciência suficiente para preservar sua própria vida e de seus semelhantes. Apesar de muitos ideólogos ainda tentarem sem sucesso culpar o abstrato [o capitalismo, a cultura ocidental, a cristandade, etc.] a velha e boa realidade captada pelos verdadeiros artistas, sempre nos mostrará o caminho a seguir para evitar a decadência. A grande maioria das crianças mal educadas acabam por se tornarem adultos de caráter deformado. A minoria mal educada, rompem de vez com a ordem social e além do caráter deformado adquirem hábitos sociopatas. Como não se pode prever o futuro, só nos resta policiar a nós e nossos rebentos e temer a Deus.


Walter A.
wjr_stoner@hotmail.com / facebook.com/walter_blogTM

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